A energia sob forma de partículas ou radiação eletromagnética emitidas por alguns elementos instáveis produz lesões corporais de variada magnitude.
A radioatividade, fenômeno natural pelo qual núcleos instáveis emitem radiação, tem sido fundamental em avanços científicos, médicos e industriais desde a sua descoberta. No entanto, o seu uso traz riscos inerentes que requerem atenção cuidadosa, especialmente no que diz respeito à saúde humana.
Henri Becquerel, em 1896, tropeçou na descoberta da radioatividade ao observar que o sal de urânio emitia raios capazes de atravessar papel fotográfico.
Marie Curie e Pierre Curie aprofundaram a investigação, conduzindo ao isolamento do rádio e do polônio.
As lesões decorrentes da radioatividade são mais comumente produzidas por aparelhos de raios X ou por substâncias radioativas de uso medicinal ou industrial.
Existe uma grande preocupação das autoridades com os atentados radioativos, utilizando, por exemplo, as chamadas “bombas sujas”, nas quais o componente radioativo não é utilizado para a explosão, mas é simplesmente espalhado por uma explosão convencional.
Lesões e Enfermidades Relacionadas à Radioatividade
Lesões Agudas: conhecidas como radiodermites
Síndrome da Radiação Aguda (SRA): Resposta sistêmica à exposição à radiação que pode incluir náuseas, vômitos, diarreia e perda de cabelo. Exposições muito altas podem ser fatais em pouco tempo.
Queimaduras de Radiação: Resultantes de uma exposição direta e intensa à radiação. Manifestações incluem pele vermelha, inchada e bolhas. Em casos graves, pode haver necrose da pele.
PRIMEIRO GRAU - Formas depilatória ou eritematosa
SEGUNDO GRAU - Geralmente representada por ulceração dolorosa, recoberta por crosta sero-purulenta
TERCEIRO GRAU - Apresentam zonas de necrose
Outra classificação para radiodermites
Grau 0 - Sem reação
Grau I - vermelhidão cutânea leve, descamação seca, queda de pelos e diminuição da sudorese
Grau II - vermelhidão cutânea e edema moderados, descamação úmida em placas em dobras cutâneas
Grau III - edema intenso e descamação úmida em placas além das dobras cutâneas
Grau IV - ulceração cutânea e ou necrose, com possibilidade de sangramento
Lesões Crônicas
Podem apresentar as formas úlcero-atrófica, telangiectásica ou neoplásica.
Enfermidades Crônicas:
Câncer: Risco aumentado devido à exposição prolongada ou repetida à radiação, afetando diversos órgãos.
Doenças Genéticas Hereditárias: Mutação do DNA causada pela radiação pode ser herdada pelas próximas gerações.
Radioatividade: Como Ocorre?
Desintegração Nuclear: A radioatividade é o processo pelo qual núcleos instáveis de átomos liberam energia. Isso acontece porque alguns núcleos têm uma combinação de nêutrons e prótons que não é estável.
Emissão de Partículas: Durante a desintegração, os átomos podem emitir três tipos principais de radiação:
Alfa (α): São partículas pesadas e carregadas positivamente, compostas por dois prótons e dois nêutrons. Têm poder de penetração muito baixo, sendo facilmente barradas por materiais como papel ou pele humana.
Beta (β): São partículas carregadas negativamente (ou positivamente, no caso de emissão β+). Têm um poder de penetração maior que as partículas alfa, mas ainda podem ser bloqueadas por materiais como vidro ou plástico.
Gama (γ): São ondas eletromagnéticas de alta energia (radiação) e não partículas. Têm alto poder de penetração e podem ser barradas por materiais densos, como chumbo ou concreto.
Decaimento Radioativo: O processo de desintegração nuclear ocorre em etapas, onde um átomo "pai" decai e forma um átomo "filho". Esse átomo "filho" pode ser estável ou continuar a decair até atingir um estado estável.
Meia-vida: É o tempo necessário para que metade dos átomos de uma amostra radioativa se desintegre. Cada isótopo radioativo tem sua meia-vida específica, que pode variar de frações de segundo até milhões de anos.
Origem da Radioatividade: Pode ser natural ou artificial:
Natural: Alguns elementos, como o urânio, rádio e tório, são naturalmente radioativos. Eles têm existido desde a formação da Terra.
Artificial: A radioatividade também pode ser induzida. Isso ocorre quando átomos estáveis são transformados em átomos radioativos através de processos como bombardeamento por nêutrons em reatores nucleares.
Aplicações: A radioatividade tem diversas aplicações práticas, desde a geração de energia em reatores nucleares até usos médicos em diagnósticos e tratamentos.
Riscos: A exposição excessiva à radiação pode causar danos às células, podendo levar a queimaduras, doenças ou morte. A proteção adequada e o manejo correto de materiais radioativos são essenciais para minimizar esses riscos.
Materiais Radioativos
Naturais:
Urânio
Rádio
Tório
Radônio
Artificiais:
Tecnécio-99m
Iodo-131
Irídio-192
Cobalto-60
Utilização em Medicina Nuclear:
Para Diagnóstico:
Tecnécio-99m: O radioisótopo mais utilizado em diagnóstico por imagem devido à sua meia-vida curta e baixa energia. Utilizado em cintilografia óssea, cardíaca, entre outras.
Iodo-123: Utilizado principalmente para avaliação da tireoide.
Gálio-67: Empregado para identificar inflamações, infecções e certos tipos de câncer.
Flúor-18: Comumente usado em tomografia por emissão de pósitrons (PET) para diagnóstico de câncer, demência e doenças cardíacas.
Para Terapia:
Iodo-131: Empregado para tratar hipertireoidismo e câncer de tireoide.
Fósforo-32: Utilizado para tratar certos tipos de câncer de sangue.
Samário-153 e Estrôncio-89: Usados para alívio da dor em pacientes com metástases ósseas.
Irídio-192: Empregado em braquiterapia para tratamento de câncer.
Medindo a Radioatividade:
Monitores de radiação: Detectam e medem a radiação em tempo real.
Dosímetros: Monitoram a exposição acumulada à radiação.
Câmaras de ionização: Usadas em radioterapia para medir doses de radiação.
Contadores Geiger-Müller: Detectam partículas alfa, beta e raios gama, emitindo um alerta sonoro.
Proteção em Ambiente Hospitalar:
Distância: Afastar-se de fontes de radiação. A intensidade diminui com o quadrado da distância.
Tempo: Reduzir o tempo de exposição.
Blindagem: Usar proteção adequada como chumbo.
EPIs: Utilizar equipamentos de proteção individual.
Monitoramento: Usar dosímetros para monitorar a exposição.
Proteção respiratória: Usar máscaras ou tecidos para proteção.
Descontaminação: Remover roupas e tomar banho completo.
Evite alimentos e água contaminados: Consumir apenas itens selados e protegidos.
Principais Acidentes Nucleares:
1957 - Explosão em Kyshtym, Rússia
1979 - Acidente de Three Mile Island, EUA
1986 - Desastre de Chernobyl, Ucrânia
1987 - Acidente Radiológico de Goiânia, Brasil:
Origem: O acidente aconteceu quando um equipamento de radioterapia, abandonado em uma clínica desativada, foi inadvertidamente desmontado. O equipamento continha uma cápsula de césio-137, um isótopo radioativo.
Desenvolvimento: Várias pessoas manusearam o material, atraídas pelo brilho azul emitido pela substância. O césio-137 foi espalhado em várias regiões da cidade. Várias pessoas coletaram o material, vendendo-o ou distribuindo-o para familiares e conhecidos.
Consequências: Quatro pessoas morreram nos dias seguintes devido à radiação aguda. Muitas outras foram contaminadas e sofrem com problemas de saúde até hoje. A cidade teve que realizar uma grande operação de limpeza, resultando na construção de um depósito para confinar os resíduos radioativos coletados.
Impacto: O acidente expôs as falhas de controle e segurança relacionadas a materiais radioativos e levou a uma maior conscientização sobre os riscos associados à radiação.